FICHAMENTO I
VELENTE, J. A. Visão analítica da
informática na educação no Brasil: a questão da formação do professor. Revista
Brasileira de Informática na Educação n.1, setembro de 1997. p. 45-60.
Disponível em: http://www.geogebra.im-uff.mat.br/biblioteca/valente.html
1) Resumo:
Os autores traçam um breve histórico da introdução dos
computadores no âmbito escolar, em especial dos Estados Unidos, da França e do
Brasil, devido a importância dos dois primeiros como influenciadores do modelo
brasileiro. Contudo, o Brasil não copiou esses modelos e, inclusive, existem
diferenças conceituais e organizacionais entre os três modelos. A experiência
de cursos de formação de professores para atuar na informática no Brasil e o
histórico da introdução do computador na escola são citados pelo autor, que
conclui argumentando acerca da fragilidade da formação dos professores para
trabalhar com a nova mídia, inclusive criticando a formação conceitual, dos
conteúdos, já que, para o autor, a informática potencializa os conteúdos de
forma que o professor é exigido a maximizar seus conhecimentos da sua própria
área.
2) Citações principais do texto:
“Não se encontram práticas realmente
transformadoras e suficientemente enraizadas para que se possa dizer que houve
transformação efetiva do processo educacional como por exemplo, uma
transformação que enfatiza a criação de ambientes de aprendizagem, nos quais o
aluno constrói o seu conhecimento, ao invés de o professor transmitir
informação ao aluno.”
“Hoje sabemos que o papel do
professor no ambiente Logo é fundamental, que o preparo do professor não é
trivial não acontecendo do dia para a noite (Valente, 1996).”
“Parece-nos que a tendência
interdisciplinar presente no domínio da informática desenvolveu estas
potencialidades de uma educação mais aberta e articuladora.”
“[...]a primeira grande diferença do
programa brasileiro em relação aos outros países, como França e Estados Unidos,
é a questão da descentralização das políticas. No Brasil as políticas de
implantação e desenvolvimento não são produto somente de decisões
governamentais, como na França, nem consequência direta do mercado como nos
Estados Unidos.”
“É necessário repensar a questão da
dimensão do espaço e do tempo da escola. A sala de aula deve deixar de ser o
lugar das carteiras enfileiradas para se tornar um local em que professor e
alunos podem realizar um trabalho diversificado em relação a conhecimento e
interesse. O papel do professor deixa de ser o de "entregador" de
informação para ser o de facilitador do processo de aprendizagem. O aluno deixa
de ser passivo, de ser o receptáculo das informações para ser ativo aprendiz,
construtor do seu conhecimento.”
“[...]se esses novos software
ampliam as possibilidades que o professor dispõe para o uso do computador na
construção do conhecimento, eles também demandam um discernimento maior por
parte do professor e, consequentemente, uma formação mais sólida e mais ampla.
Isso deve acontecer tanto no domínio dos aspectos computacionais quanto do
conteúdo curricular. Sem esses conhecimentos é muito difícil o professor saber
integrar e saber tirar proveito do computador no desenvolvimento dos conteúdos”
“Na verdade, a introdução da
informática na educação segundo a proposta de mudança pedagógica, como consta
no programa brasileiro, exige uma formação bastante ampla e profunda do
professor. Não se trata de criar condições para o professor dominar o
computador ou o software, mas sim auxiliá-lo a desenvolver conhecimento sobre o
próprio conteúdo e sobre como o computador pode ser integrado no
desenvolvimento desse conteúdo.”
“A formação do professor deve prover
condições para que ele construa conhecimento sobre as técnicas computacionais,
entenda por que e como integrar o computador na sua prática pedagógica e seja
capaz de superar barreiras de ordem administrativa e pedagógica.”
3)Comentários (parecer e crítica):
É interessante conhecer as origens
da informática nas escolas. Observar como as tecnologias se comportam no âmbito
educacional hoje, como se comportavam na época do artigo (1997) e nos demais
momentos citados pelo autor é importante na medida em que expõe dificuldades de
ontem já superadas e outras que perduram até hoje. A questão estrutural das
escolas, o valor elevado das tecnologias de ponta, as dificuldades quanto ao
desenvolvimento e consumo dos programas educacionais, já que é possível
observar um distanciamento entre o que é produzido pelos desenvolvedores de
softwares e as demandas dos professores que, por sua vez, variam de acordo com
vários fatores (região onde o ensino é desenvolvido, características
socioculturais dos alunos e professores, etc.).
É bastante pretensiosa a previsão de que as tecnologias vão transformar
o processo educacional, pois as centraliza demasiadamente, em detrimento dos
verdadeiros agentes dessa educação (professores, alunos e comunidade escolar).
Parece-me mais corente ver as tecnologias como uma ferramenta capaz de
potencializar os processos atuais e criar novos, mas nunca como o centro da
prática dialética ensino-aprendizagem. Independentemente disso, a formação do
professor para atuar nessa área, tanto o pedagogo que atua em sala de aula,
quanto o licenciado em Ciências da Computação, deve ser revista e repensada do
ponto de vista ideológico e curricular, uma vez que os pedagogos possuem
pouquíssimas disciplinas acerca desse tema e os licenciados em ciência da
computação possuem uma formação em educação muito fraca e incipiente.
4)Questionamentos (questões
levantadas e dúvidas)
O informática foi enxergada por
alguns estudiosos como capaz de transformar o ensino, porém, enxergando a
escola como uma instituição altamente conservadora, creio que seja difícil
transformar sem antes se integrar. Ao enxergar a informática como integrante do
ensino, creio que ela passa a ser um instrumento e não um agente transformador,
agente que, ao meu ver, só pode ser um aluno, um professor, comunidade escolar,
pais e etc. Além disso, outra questão que me inquietou nesses texto é saber
qual modelo é mais eficaz ou mais adequado e quais os mecanismos que
influenciam para o êxito ou fracasso dos modelos americano e francês de
introdução da informática na educação.
FICHAMENTO
II
CYSNEIROS,
P. G. Novas tecnologias na sala de aula: melhoria do ensino ou inovação
conservadora. Informática Educativa, UNIANDES – LIDIE, Vol 12, n°1, 1999, pg.
11 – 24. Disponível em: http://www.colombiaprende.edu.co/html/mediateca/1607/articles-106213_archivo.pdf
1)
Resumo:
O artigo trabalha a questão das
tecnologias aplicadas à educação, sob uma ótica de problematização e
desmitificação. Inicia seu pensamento descrevendo contextos em que, devido à
pobreza ou à baixa quantidade de recursos, as tecnologias são subutilizadas,
quando existem.
Ademais,
traz o conceito de inovação conservadora, que consiste no uso de tecnologias
dispendiosas para fins que poderiam ser atingidos com outros recursos mais
acessíveis, sem perder em qualidade ou ter menor êxito. Nesses casos, as
tecnologias não são utilizadas em todo seu potencial e não aumentam a qualidade
do ensino. O avanço, tecnologicamente, não deixa de existir, mas
pedagogicamente é incipiente.
Assim,
os modelos tradicionais são reafirmados e consolidados. O mau uso de uma
tecnologia passa a aumentar o poder expositivo do professor e diminuir a
capacidade crítica do aluno, uma vez que o uso da tecnologia inovadora é
baseado em práticas antiquadas.
O
autor defende as tecnologias na educação desde que os alunos e professores
sejam capacitados para utilizar de forma crítica e competente a ferramenta que
dispõem, uma vez que elas podem servir para alienar ou reproduzir o status
daqueles que detém o poder de disseminação da informação, excluindo a parcela
que detém menor acesso.
2)
Principais citações do texto:
“Em
escolas informatizadas, tanto públicas como particulares, tenho observado
formas de uso que chamo de inovação conservadora, quando uma ferramenta cara é
utilizada para realizar tarefas que poderiam ser feitas, de modo satisfatório,
por equipamentos mais simples (atualmente, usos do computador para tarefas que
poderiam ser feitas por gravadores, retroprojetores, copiadoras, livros, até mesmo
lápis e papel). São aplicações da tecnologia que não exploram os recursos
únicos da ferramenta e não mexem qualitativamente com a rotina da escola, do
professor ou do aluno, aparentando mudanças substantivas, quando na realidade
apenas mudam-se aparências (p. 15-16).”
“[...]
tais tecnologias amplificam a capacidade expositiva do professor, reduzindo a
posição relativa do aluno ou aluna na situação de aprendizagem. (p. 16).”
“A
exposição pode até ser mais convincente no inicio, devido ao aspecto dramático,
mas essencialmente não difere de uma aula tradicional. (p. 16).”
“Vários
autores reconhecem que os usos educativos das tecnologias da informação na
última década - instrução assistida por computador (CAI), informações em rede,
aprendizado à distância - foram embasados em métodos pedagógicos tradicionais:
fluxo unidirecional de informações, tipicamente um professor falando ou
comentando imagens para alunas e alunos passivos. (p. 17).”
“A
presença da tecnologia na escola, mesmo com bons softwares, não estimula os professores
a repensarem seus modos de ensinar nem os alunos a adotarem novos modos de
aprender. Como ocorre em outras áreas da atividade humana, professores e alunos
precisam aprender a tirar vantagens de tais artefatos. Um bisturi a laser não
transforma um médico em bom cirurgião, embora um bom cirurgião possa fazer
muito mais se dispuser da melhor tecnologia médica, em contextos apropriados.
(p. 18).”
“Em
tais horas, devido ao sentimento de inadequação, não ocorre ao professor que o
mais importante é o ato de pensar com determinadas informações, não o acesso
indiscriminado a qualquer informação (p. 19).”
“Embora
a Internet seja um recurso com muito potencial para determinadas atividades
educativas, ela também pode ser mais um fator de colonialismo cultural, pois
estamos recebendo a informação daqueles que tem condições de colocá-la nos
computadores, reduzindo nossa presença e ampliando o alcance do poder de suas
ideias, com todos os fatores associados do formato hiupertexto (sic), da velocidade,
de multi-representações (p. 20).”
3)
Comentários (parecer e crítica)
O ponto de vista do autor é muito
interessante, pois vem como um breque e um convite à reflexão acerca da
inserção desenfreada das tecnologias em ambientes escolares. Num olhar prévio e
desprovido de reflexão, é muito difícil enxergar pontos negativos na entrada
das tecnologias no ambiente escolar. Contudo, após a leitura do texto, parece
ingênuo não os detectar. Sob uma ótica administrativa e econômica, parece-me um
engano inserir uma tecnologia para exercer funções que são atendidas com
primazia por técnicas menos caras e mais acessíveis. Além disso, o turbilhão de
informações que a internet é capaz de lançar em uma aula ou em uma pesquisa
pode ser tanto benéfico quanto prejudicial, uma vez que informações soltas e
desconexas com o tema tratado em aula podem fazer nada mais do que atrapalhar a
relação ensino-aprendizagem.
4)
Questionamentos (questões levantadas e dúvidas)
- O
autor critica bastante a inserção sem pensar das tecnologias nas escolas,
porém não cita formas ou exemplifica como isso poderia se dar.
- Faltou
um apontamento para como poderia ser feita a formação dos professores para
a atuação e a aplicação das tecnologias em sala de aula.
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